Tuesday, February 26, 2008

Folha de S. Paulo

QUEM VÊ PENSA...


Folha de S. Paulo - SP 20/01/2008 - 10:42
Dominar o idioma facilita negociações.

Para melhorar a parceria com os chineses, profissional deve assimilar a cultura e a etiqueta do país De olho na China, Gerdau, Vicunha, IBM, Votorantim, HSBC e Suzano são algumas das empresas que valorizam o aprendizado do mandarim - e têm convênio com as duas principais escolas de São Paulo.

Apesar do esforço, ninguém tem a ilusão de que um ano de aprendizado capacite o profissional a fechar contratos nessa língua, cuja estrutura parece intransponível para ocidentais.Ainda assim, há motivos para tentar ao menos arriscar-se a aprender. Em alta, o idioma vira diferencial na hora de fechar negócios com emissários da China, um dos maiores mercados do mundo.

A hegemonia do inglês segue incontestável, nota Ming Tsung Wu Ming, diretor e professor da NinHao Centro de Idioma e Cultura, que faz teste de proficiência em chinês para empresas de RH e consultoria."O mandarim é mais um facilitador para quem pretende fazer parceria ou vender para chineses, que se orgulham muito de sua língua e suas tradições. Um executivo que fale mandarim é valorizado, mas deve entender bem a cultura e a etiqueta de negociação", alerta Ming.

Chegar atrasado sem avisar, criticar a política chinesa e interromper quem está falando são gafes imperdoáveis, assim como dar presentes indevidos. "Boné verde" é sinônimo de "marido traído" e "relógio de parede" tem o som em mandarim a "ir a um velório".

Múltiplos significados


Aprender a diferenciar os múltiplos significados de uma palavra é outro desafio. "Há quatro tons. Dependendo da entonação, a palavra "ma", por exemplo, significa mãe, maconha, cavalo ou xingar. E, usada no final da sentença, indica que é interrogativa", explica Ming.Os alunos aplicados têm resultados: em dois anos, já conseguem manter uma conversa, dar opiniões e elaborar textos simples em ideograma.

O administrador Murillo Diniz, 27, considera valiosos os dois meses de curso que fez antes de embarcar para Xangai, onde trabalha há mais de um ano no escritório de representação da VCP (do grupo Votorantim). Responsável por operações logísticas na Ásia, põe o mandarim em prática em visita a portos chineses.

"O esforço é muito admirado e respeitado pelos chineses", avalia. Segundo ele, são raros os ocidentais no país que conseguem falar mandarim com naturalidade. "Passam de seis a oito horas por dia estudando durante dois anos antes de ter fluência." O estudo se resume quase sempre à conversação, porque escrever é difícil. Para o administrador, o inglês tem vida longa como língua de negócios e é cada vez mais estratégico para novas gerações de chineses.

O segredo para completar o aprendizado complexo é ter paciência. Nada de "píqì" (pronuncia-se pitchí), possivelmente a única palavra coincidente em português e em mandarim.

Meu Brasil Brasileiro

"Morar nos Estados Unidos é bom, mas é uma merda. Morar no Brasil é uma merda, mas é bom." Tom Jobim, genial.


Enfim, as merecidas férias no verão do nosso Brasil! Em 2007 viajamos bastante pela Ásia, nos divertimos muito, mas que saudades do Brasil. Viajar é bom, sim, maravilhoso, mas o que poucos sabem é que essas viagens se tornam praticamente uma questão de sobrevivência aqui, de sanidade mental. Ao chegar na China ouvíamos de muitas pessoas que "depois de 3 ou 4 meses na China, você precisa viajar para fora do país por um tempo..." Parecia um grande exagero, mas depois de alguns meses foi impossível não concordar. Morar na China cansa.


No caminho para o Brasil, aproveitando a conexão na Europa, ainda fiquei uma semana na Bélgica enquanto a Cá aproveitou para visitar a Cintia & Bernardo em Lisboa.
Passamos ainda uma semana viajando pelo leste europeu – Hungria, Áustria e República Tcheca. Apesar da friaca, aproveitamos muito, uma delícia! Nem mesmo o Flavião morando na Hungria conseguiu estragar nossas férias...

Os dias no Brasil foram fantásticos, apesar de terem passado rápido demais. Rever a família, os amigos, tomar um genuíno Guaraná Antarctica, comer o rango da D. Lúcia (maravilhoso), churrasco até não poder mais com os amigos (literalmente, já que passei o Reveillon com febre depois de tanto churrasco e cerveja). E quanto sossego. Depois de um ano em meio a 1,3 bilhão de chineses (empurra, cospe, grita, buzina), era impensável passar o Reveillon na praia (trânsito, filas quilométricas, buzinas), e fomos nos esconder em Sto Antônio do Pinhal. Pensando bem, o motivo da febre pode ter sido o ar, puro demais. Meu pulmão não estava mais acostumado.

A impressão do Brasil não poderia ser melhor. Voltamos muito animados ao ver tantas construções e novos condomínios, carros novos e modernos na rua, as pessoas muito bem (shopping na véspera de Natal parecia shopping da China no final de semana!). Será que o Brasil agora vai? Quem sabe ano que vem um santo assume a presidência e resolve a roubalheira?

Como tudo que é bom dura pouco, aqui estamos nós novamente: Shanghai city!
Que venha o Ano do Rato!!!

Sunday, February 17, 2008

MASTERS



A vida na China, principalmente em Shanghai, é intensa. Sem dúvida, pelo abismo das diferenças culturais (cada dia uma aventura), mas também porquê aqui é onde tudo acontece, para onde os olhos do mundo estão voltados. Morar na China neste momento da história do país e do mundo é, no mínimo, interessante.

O singelo crescimento de mais de 10% ao ano durante tanto tempo não é fruto do acaso, e o impacto na vida real é muito claro! Construções, construções e construções por todo lado, gente chegando e indo, e muitos eventos. Pros fãs do esporte, é um sonho de consumo. Em 2007 tivemos em Shanghai a Fórmula 1, Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino, Masters Series de Tênis, e a contagem regressiva pras Olimpíadas 2008 já começou. A foto ali de cima é do Qi Zhong Stadium em Shanghai (o teto se abre inteiro no formato de uma flor de lótus, um projeto baratinho), construído para receber os Master Series de Tênis de 2005 a 2007... o campeonato dura 1 (UMA!) semaninha por ano! Sediaram ali ainda 1 (UM!) Campeonato Mundial de natação (construíram uma piscina olímpica no lugar da quadra de tênis!) e trouxeram 1 (UM!) jogo de exibição da NBA. No restante de todos estes anos o estádio ficou fechado. Em cidades do interior da China já vi estádios de futebol que serão construídos no Brasil só por conta da Copa do Mundo em 2014 (e SE forem construídos). Pra quê ter um estádio monumental em uma cidade de interior, que sequer tem um time de futebol local, em um país que é fã de ping-pong e tai chi chuan? Tá sobrando dinheiro? Os projetos não visam ganhar dinheiro diretamente, mas são uma grande vitrine pra cidade e pro país. Um investimento de marketing. E atraem muitos investimentos. Mas sim, está sobrando dinheiro também. "Construa e eles virão."


Onde mais daria pra ver o Schumacher dando show, Alemanha x Inglaterra (tudo bem, foi o feminino....), e pra arrematar o ano, Nadal x Federer. A foto resume tudo: "SHHHH, gênio em ação".




A quantidade de guindastes espalhadas pela cidade é inacreditável, em terrenos ou quarteirões inteiros onde há pouco existiam grandes (e velhos) conjuntos residenciais ou comerciais. Tudo é dinâmico: em uma semana tem gente morando, na outra todos foram desapropriados, na outra tudo está interditado, logo entram tratores para colocar tudo abaixo, e na fila já estão os guindastes e enormes projetos de novos shoppings, enormes hotéis de alto padrão, etc. Imaginem quantas pessoas desalojadas em Beijing para os Jogos Olímpicos? Nos (nada independentes) meios de comunicação chineses, todos foram justamente realocados e seguem a vida contentíssimos (me engana que eu gosto!). A lição de casa está sendo (bem) feita na China (liberdade de expressão, democracia e direitos humanos é uma outra história).

Friday, February 15, 2008

INDOCHINA

Em poucas palavras, uma viagem dos sonhos! Sem entender o motivo, a idéia de conhecer o Vietnã há tempos povoava meus "sonhos de consumo de viagens" - talvez pelas misteriosas imagens da Guerra, primeira lembrança que nos vem à mente quando pensamos em Vietnã. O que descobrimos é que este pré-conceito é uma enorme injustiça com um país tão bonito. (Vietnã = guerra é um pensamento tão ignorante quanto a Brasil = selva & cobras). De quebra ainda continuamos por Camboja e Laos, países vizinhos que junto do Vietnã formam a INDOCHINA, ou Conchinchina. Foram 24 dias de viagem em meio a uma história riquíssima.


A chegada a Hanoi, capital do Vietnã, é de assustar qualquer motoboy da Marginal Tietê. Os carros parados nas esquinas ou semáforos logo são cercados por dezenas, por vezes centenas de motos... diria que a razão de 100 motos para cada carro não é exagero. Quando o susto passa e começamos a analisar os detalhes, começa a ficar engraçado: 3 ou 4 pessoas por moto (presenciamos o recorde de 6 pessoas em uma), cachorro, geladeira, fogão, vendedor de chapéu, tudo isso num trânsito absolutamente caótico e sem leis. As buzinas são ensurdecedoras, e vale calçada, acostamento, tudo. E usar capacete provavelmente é proibido por lei!

A idéia era ficar apenas 1 dia em Hanoi e logo fazer um passeio a Halong Bay, um Patrimônio Mundial da Unesco na costa do país, onde iríamos passar uma noite a bordo de um barco em meio a mais de 3000 ilhas e grutas... hum... o São Pedro versão Vietnamita não gostou muito da idéia e nos recebeu com o tufão Lekima, 3 dias que arrasaram grande parte da costa vietnamita. Todos os passeios foram cancelados, e mais tarde ficamos sabendo que 32 barcos afundaram em Halong Bay - sem vítimas. Para completar, trens e ônibus não circulavam pois trilhos e estradas estavam danificados ou bloqueados por deslizamentos de terra, e vôos então nem pensar.


Ficamos 4 dias em Hanoi: nos perdemos pelas ruelas de seu Old Quarter, conhecemos a cidade inteira, e nos divertimos com o único meio de transporte disponível no momento: TUK-TUK. A todo momento éramos literalmente perseguidos pelos tiozinhos "Sir, one hóuér?" (hóuér = hora). Uma horinha de pedaladas, 2 dólares...














No final ainda conseguimos voltar a Hanoi para conhecer Halong Bay (e valeu muito a pena!). Visitar um dos candidatos oficiais às 7 Maravilhas do Mundo Moderno valeu o sacrifício de alterar o ritmo da viagem.


Em uma outra viagem estive no Vietnã também a trabalho. Acostumado a visitar fábricas de papel bastante modernas e automatizadas no Brasil e na China, foi incrível conhecer fábricas com predominância de trabalho manual nas linhas de produção - o corte do papel chegava a ser feito com guilhotinas manuais, e a colagem das embalagens feita com cola e pincel. Com um salário mínimo de 50 dólares ao mês, não compensa investir em maquinário... Às margens das estradas já é possível ver fábricas de muitas multinacionais: LG, Panasonic, Toshiba, Fuji, etc. Por incrível que pareça, muitas empresas já começam a fugir dos "altos" custos da China... capitalismo selvagem.


Em seguida fomos para a região central do país, onde passamos por Hue, a antiga Capital Imperial do país (e nos revoltamos com a destruição provocada pelas bombas americanas às cidades e templos imperiais), e por Hoi An, uma cidadezinha charmosíssima de ruas estreitas e com seu centro histórico de ruas de pedra fechadas para o trânsito. Ao escurecer, o charme é ainda maior com lanternas de estilo chinês espalhadas pela cidade, construções francesas, chinesas e japonesas que dão lugar a restaurantes fabulosos, onde nos deliciamos com a culinária vietnamita. Não é por acaso que a cidade é considerada um Patrimônio Cultural da Unesco: "Hoi An é uma excepcional manifestação da fusão de culturas através do tempo".



DANDO UMA AULINHA DE CULINÁRIA!

No sul do país, Golfo da Tailândia, está a maior ilha do Vietnã: Phu Quoc. Uma ilha praticamente intocada e coberta pela floresta. Não poderia haver melhor lugar para celebrar meu aniversário do que a praia de Bai Sao, completamente deserta, de areia branquinha e água turquesa. Eu & Cá + meia dúzia de pescadores. A foto diz tudo.


Recebi ainda um bolo de presente do hotel, para que eu pudesse fazer meu desejo: "que Phu Quoc continue para sempre intocada e coberta pela floresta!" Não é o que indicam algumas contruções de novos hotéis (onde melhor construir um hotel do que no meio da floresta, com direito a muita madeira abaixo, bem em frente à praia?). Uma pena...


E por fim chegamos ao palco central da Guerra: Ho Chi Minh City (ex-Saigon). RETROSPECTIVA DA GUERRA. O Vietnã foi uma colônia francesa desde o século XVIII. Com a ocupação nazista da França durante a 2°Guerra Mundial, as colônias francesas do sudeste asiático foram ocupadas pelos japoneses. Após a derrota nazista em 1945, a França tentou recuperar seu domínio na região, iniciando em 1946 a Guerra da Indochina, que durou até 1954 com a derrota francesa e a independência do Laos, Camboja e Vietnã. O Vietnã foi dividido então em Vietnã do Norte, SOCIALISTA, e Vietnã do Sul, PRÓ-CAPITALISTA, e determinou-se que em 1956 seriam realizadas eleições para a unificação do país (o único país que não assinou o tratado só poderia ser os EUA). Em 1955 o primeiro-ministro do Vietnã do Sul liderou um golpe militar (apoiado por.... EUA), cancelando as eleições de 1956 e dando início a uma guerra contra o Vietnã do Norte e a guerrilha Vietcong. Em 1964 os EUA passaram a bombardear o Vietnã do Norte, iniciando a Guerra do Vietnã. De um lado uma coalizão de forças de EUA, Vietnã do Sul, Austrália e Coréia do Sul; do outro lado estava o Vietnã do Norte, com apoio da União Soviética e China - o conflito tornou-se um elemento central da Guerra Fria, alimentado pelo temor americano de que outros países do sudeste asiático seriam dominados pelo comunismo caso o Vietnã fosse tomado pelo Partido Comunista (o que de fato aconteceria após o fim da guerra). A partir de 1972 as baixas americanas e o sentimento de repulsa da opinião pública americana eram enormes (salvem os Hippies), e os EUA se retiraram da Guerra em 1973. O conflito seguiu entre Vietcongs e as forças de resistência do Vietnã do Sul até 1975, quando os Vietcongs ocuparam Saigon. O todo poderoso EUA fora derrotado!!!

Tanque 390, o primeiro a derrubar os portões do Palácio Presidencial em Saigon.

Escutamos de um velhinho: "O Vietnã é o país mais poderoso do mundo: vencemos os Franceses, os Japoneses, e os EUA." Cerca de 2 milhões de vietnamitas e 57 mil americanos morreram no conflito contra os EUA (difícil dizer que o Vietnã "ganhou" a guerra).

Os Vietcongs souberam usar muito bem estratégias de guerrilha e as vantagens geográficas de seu país (selva fechada e calor de 40 graus). Além disso, utilizaram-se de mais de 200 km de túneis subterrâneos construídos ao redor de Saigon, para locomover-se pela região e atacar os americanos. Os túneis Cu Chi são abertos para visitação - extremamente desaconselhável para claustrofóbicos!!!



Um soldado americano segura, RINDO, os restos de um corpo atingido por uma granada. Museu de Crimes de Guerra Americanos, Ho Chi Minh City.

Ho Chi Minh, morto em 1969 (de um colapso cardíaco), tornou-se o grande herói nacional, e Saigon foi renomeada Ho Chi Minh City. Seu corpo está enterrado lá, e no verão é enviado a Moscou para passar umas férias (é sério!!!), enquanto seu Mausoléu passa por manutenções.




Na cidade de Tay Ninh, quase na fronteira com o Camboja, visitamos um templo Caodaísta, a multi-colorida religião fundada no Vietnã em 1926. Um mix de tradições e teologias, o templo parece ter sido inspirado no Castelo da Cinderela! O Buda Sakyamoni, Confúcio e Jesus Cristo dividem o altar, juntamente com um enorme olho divino desenhado em uma pirâmide! Pudemos ainda presenciar uma cerimônia, com muita meditação, música e cantos. Mulheres de um lado, homens do outro, a maioria de branco. Os mais altos na hierarquia vestem roupas coloridas, dependendo de sua ligação espiritual com o Caodaísmo: amarelo (Budismo), azul (Taoísmo) ou vermelho (Confucionismo).


Depois de algumas (muitas) horas navegando pelo rio Mekong, palco de muitos conflitos da guerra e hoje lar de milhares de “vietnamitas flutuantes”, saímos do Vietnã rumo ao Camboja. A fronteira é digna de uma Brasil-Bolívia, em meio à selva e rios.

Fronteira Vietnã-Camboja: controle de passaportes.
Logo chegamos a Phnom Phen, capital cambojana. Difícil escolher qual foi palco de maiores atrocidades: Saigon ou Phnom Penh. O Camboja já foi um dos países mais ricos do Sudeste Asiático, um grande exportador de arroz. Após envolver-se indiretamente na Guerra do Vietnã, ao ser bombardeado pelos americanos na tentativa de conter o abastecimento dos Vietcongs no sul do Vietnã, o imperador Khmer, contrário aos interesses americanos, foi deposto por seu general em um golpe militar (apoiado por, logicamente, EUA), que passou a atacar os Vietcongs e envolveu diretamente o país na Guerra. Em 1975, com a vitória dos Vietcongs, o poder foi tomado pelo Khmer Vermelho - o Partido Comunista do Camboja, liderado por Pol Pot. O país mergulhava em 4 anos de uma sanguinária Guerra Civil.
Conhecido como Ano Zero, 1975 ficou marcado pela invasão de Phnom Phen pelas forças comunistas. A idéia genial era purificar o país: eliminar todo tipo de influência estrangeira e tornar o país em um grande regime agrário. A população ligada ao antigo governo ou descendente de Vietnamitas e Chineses foi perseguida e executada; toda forma de tecnologia deveria ser banida (até mesmo os relógios do país foram quebrados); o sistema financeiro deixou de existir (cédulas de dinheiro foram todas queimadas); a religião foi banida (cultos eram proibidos, e templos religiosos, incluindo os milenares templos de Angkor, foram depredados); aboliu-se toda forma de ensino, e professores e intelectuais foram caçados e assassinados (usar óculos era sinal de intelectualidade, punido com pena de morte).







Com a destruição de toda a ttecnologia, pessoas não treinadas (antigos moradores das cidades) responsáveis pelo cultivo da terra, e grande parte dos campos contaminados por minas, a produtividade sofreu uma enorme queda. Para piorar, grande parte da produção de alimentos era enviada à China em troca de armas. Não havia alimentação suficiente – a população faminta e sub-nutrida literalmente morria de fome, e não haviam armas suficientes – até mesmo balas deveriam ser economizadas, e os extermínios eram feitos através de espancamentos, pessoas degoladas ou enterradas vivas.

Hoje o Camboja ainda se recupera da devastação por que passou, mas não é um desafio pequeno desenvolver um país que teve praticamente 100% de seus professores e intelectuais exterminados e seus campos pulverizados com minas terrestres (alguém se habilita a plantar arroz no Camboja hoje em dia?) As minas ainda matam uma média de 50 pessoas ao mês e ferem muitas outras - o Camboja detêm o recorde de país com maior número de amputados do mundo! Apesar de 50% da população ser analfabeta, a facilidade de nos comunicarmos em inglês pelas ruas é impressionante!

Não foram poucas as vezes que sentimos vontade chorar, ao ver as fotos nos museus e ouvir histórias de horror contadas por seus próprios personagens, pessoas extremamente simples que perderam famílias inteiras, marcharam semanas, famintos, até campos de concentração no interior do país. Hoje, mesmo depois de tudo, ainda possuem um enorme sorriso no rosto e um carinho e respeito ao próximo de dar uma tremenda inveja a um brasileiro.

Saímos de Phnom Penh ainda anestesiados com tanta informação, tanto sofrimento, e já hipnotizados com as cenas cinematográficas que passavam pela janela do nosso "Mekong Express".


As cenas cinematograficas logo tornariam-se merecedoras de um Oscar em Siem Reap e nos Templos de Angkor, nada mais nada menos que "O Maior Complexo Religioso do Mundo". Lugar escolhido a dedo para filmagens de filmes como Indiana Jones e Tomb Rider!

























Depois de tantos lugares magníficos, sinceramente não esperávamos tanto de nosso último destino: o Laos, a "Terra de Um Milhão de Elefantes"!!! Surpreendente, lindo!!! Um país perdido no meio da selva, com 90% do território coberto por florestas nativas.


Como um bom integrante da Indochina, obviamente compartilhou das barbaridades cometidas pelos grandes heróis norte-americanos! Na tentativa de destruir a Trilha Ho Chi Minh, que abastecia os Vietcongs no sul do Vietnã, foram despejadas no Laos três vezes mais bombas do que o utilizado durante toda a Segunda Guerra Mundial!!!

Após um dia na Capital Vientiane, pegamos um ônibus noturno para Luang Prabang. 300 km percorridos em 11 horinhas, rapidão... Foi uma excelente idéia viajar de noite, caso contrário provavelmente teríamos descido do ônibus se vissemos os enorme precipícios ao
lado da estrada que apareceram com o nascer do sol. Cercado de selva, barrancos e aldeias de minorias étnicas, definitivamente foi um dos inequecíveis momentos da vida "em que buraco do mundo eu estou?" Luang Prabang parece estar isolada do mundo exterior, onde o relógio parece andar mais devagar, no ritmo dos monges budistas que passeiam pelas ruas da cidade, e onde respiramos muita paz nos últimos dias de nossa viagem.












As imagens e histórias ficarão para sempre guardadas, com um imenso carinho e respeito pelo povo Indochinês, sua espiritualidade, simplicidade e respeito ao próximo. O que ficará para sempre entalado na garganta, e embrulhado no estômago: EUA, uma história de desrespeito à vida.