Saturday, May 5, 2007

Exílio

A alegria da liberdade de expressão durou pouquíssimo. Logo após publicarmos o último post, o meio de burlar o sistema também foi censurado... o implacável Partido Vermelho. Com isto estamos temporariamente calados novamente, condenados a escrever somente durante os períodos de exílio. Neste momento estamos em Cingapura, depois de passar quase uma semana em Bali, na Indonésia. Como temos pouco tempo para a internet, tento descrever com poucas palavras estes dias fantásticos, e o próximo post será dedicado somente à viagem (porém deverá ser publicado somente no final de Junho, para quando é previsto o próximo período de liberdade).

Bali
Praias paradisíacas, com fundo de coral e água transparente
Pôr do sol – indescritível
Pessoas muito amigáveis e simpáticas
Baratíssimo – comida maravilhosa, artesanato, carro com motorista (por 8 horas e gasolina inclusa, 30 dólares)
Lugar onde quero morar pelo resto da vida depois de aposentado: GEGER BEACH

Sarongue em Bali - respeito aos deuses hindús


Sinalização nos templos: "MULHERES MENSTRUADAS, MANTENHAM DISTÂNCIA"



Geger Beach

Cingapura
Extremamente organizada, limpíssima, bem planejada e moderna - chega a ser irritantemente perfeita
SENTOSA: em uma ilha aparentemente sem maiores pretensões foram criadas praias artificiais e um resort maravilhoso, mistura de Disney com Ibiza
Aeroporto mais moderno e eficiente do mundo, maior porto de movimentação de containers do mundo
Caldeirão racial: chineses, malaios e indianos

Sentosa Island

HANYU


Há praticamente três meses começamos nossas aulas de Chinês: o Mandarim (HANYU). Mas que língua insana. Nos submetemos à tortura 3 vezes por semana e ainda estudamos bastante em casa, mas somente agora começamos a montar algumas pequenas frases. A pimeira vez que disse zaijian (tchau) para nossa ayi (empregada), a tia quase sentou no chão pra dar risada (a língua é tão difícil que os chineses nunca esperam que os ocidentais falem algo em chinês). O problema é que a situação ficou mais ridícula, pois sabemos fazer perguntas básicas como “Quanto custa?”, mas não entendemos absolutamente nada da resposta!!

Aprender mandarim parece ser diferente de qualquer outro idioma do mundo. Nas primeiras aulas não se aprende uma palavra sequer, mas somente tons. Ahhh, os tons, que dureza. O idioma possui 4 tons, o que pode diferenciar completamente o sentido de uma palavra. Na primeira página do nosso livro já vem estampado:
- ma (tom 1) = mãe
- ma (tom 2) = maconha
- ma (tom 3) = cavalo
- ma (tom 4) = xingar

Se escorregar no tom, a “minha mãe” pode virar “minha maconha”!!! Mesmo falando devagar, muitas vezes a diferença dos tons é imperceptível. Com eles falando rápido, parece impossível.

E a dificuldade parece ter explicação científica. O “modelo mental” é diferente. Em línguas ocidentais, quando uma pessoa ouve palavras em sua língua nativa, somente o lado esquerdo do cérebro é ativado. Quando os chineses escutam o mandarim, os dois lados do cérebro funcionam, pois na parte direita está localizado o centro de processamento da música - e dos tons. Devia ter aprendido a tocar piano antes de vir morar aqui...

Não bastasse a dificuldade do mandarim, ainda existem outros 53 idiomas nacionais e mais de 100 dialetos (oficialmente). Os pais de nossa professora de mandarim, moradores do norte da China, estão estudando mandarim para conseguirem se comunicar quando vêm para Xangai visitá-la. Detalhe: a população de Xangai fala o Xangainês entre si, e não o Mandarim. Pesquisas apontam que apenas 53% dos chineses podem se comunicar através do mandarim - os demais falam apenas seus dialetos locais.

Existe ainda a barbaridade do sistema de escrita chinês - mais de 40 mil caracteres. Sim, são 40.000 “desenhos” diferentes! É preciso conhecer um mínimo de 3.000 caracteres para entender um jornal “simples” (o “Diário Popular” chinês). Para assuntos mais aprimorados, seria preciso aprender mais outros tantos milhares. Quando tive algumas aulas no Brasil, o próprio professor recomendou: “Escrever? Nem perca seu tempo - impossível”. Impossível não é, mas precisaríamos de um esforço violentíssimo, e logo iríamos esquecer tudo pela falta de prática. E por isso a intenção é aprender a nos comunicar somente verbalmente.

Para ajudar um pouco (pouquíssimo, diga-se de passagem), a China organizou em 1958 um sistema de romanização da escrita, conhecido como pinyin (escrita ortográfica). Com isso, os caracteres chineses são representados pelos símbolos romanos. Parece simples, mas o G tem som de C, o J de T, o T de TS, o Ü deve ser falado com “biquinho”, etc, etc, etc, e tons, e tons, e tons, blábláblá... se mudar um pouquinho o som, ou o tom, ou se sorrir um pouco diferente, já muda o sentido da palavra. É fácil assim!!! Vale o lembrete: caso alguém venha para a China, traga o endereço de onde quer ir em CARACTERES CHINESES (para mostrar ao taxista), pois pouquíssimos chineses conhecem o sistema pinyin.


Coca-Cola = CARACTERES CHINESES

O bom senso levava a acreditar que com o domínio de uma boa quantidade de palavras, passaríamos a entender algo. Mas agora começamos a nos deparar com palavras que já tínhamos aprendido, mas com significado completamente diferente... ??? É o mesmo pinyin, o mesmo tom... mas é outro caracter chinês! Dá vontade de desistir...

Mas somos persistentes.