Friday, November 2, 2007

Especiarias

Nossa Ayi (tiazinha que arruma nossa bagunça em casa) é uma chinesa gente finíssima (Sra. Hang). Ver a Cá e ela conversando em chinês é surreal! Pois num belo dia de verão chega a chinesinha toda sorridente com um presente para nós, um saquinho cheio de "doces"! Docinho chinês!!! Hummm....

UMA PENA QUE NÃO SE POSSA SENTIR O CHEIRO PELA INTERNET!!!


Nós também demoramos algum tempo pra identificar o que era isso! É o famoso OVO PODRE!!! Depois de alguns meses enterrado, a gema fica assim verdona! Uma especiaria!

Nossa professora de mandarim adorou! Ficou com o saco inteiro!

Thursday, November 1, 2007

Andanças pela China

Algumas rápidas viagens pela China...


Suzhou & Hangzhou. Junho/2007.

"No Céu há o paraíso, na Terra há Suzhou e Hangzhou". Assim diz um dos ditados mais famosos da China.

Fundada há 2500 anos, Suzhou já foi uma super-produtora de seda, o que impulsionou a construção dos hoje famosos canais e jardins da cidade. O slogan turístico de Suzhou é "Cidade jardim, Veneza do Oriente".


Um exemplo da clássica cultura chinesa também:

Hanzhou é considerada o mais famoso destino turístico do país para os chineses!!! E um ótimo passeio de final de semana pra quem mora na loucura de Shanghai. Apesar da invasão de turistas chineses, a cidade é super tranquila, muito verde e com um enorme lago rodeado de cafés e restaurantes. O lago, chamado West Lake ("Xi Hu"), é o mais famoso da China, e dele foi copiado o nome para outros muitos "Xi Hu" espalhados pelo país. O passeio de barco foi uma delícia, não fosse o peidão de boas-vindas que recebemos de nosso distinto piloto. A cara do cidadão:




Macau. Setembro/2007.

Antiga colônia portuguesa, Macau tornou-se uma mistura de Lisboa com Las Vegas (restaurantes portugueses por todos os lados, um bacalhau delicioso, e cassinos, cassinos e mais cassinos). Foi uma enorme decepção saber que ninguém fala português, mas pelo menos nos sentimos em casa com as placas de trânsito e nomes de rua todos escritos em português. A influência portuguesa é enorme na arquitetura e história da cidade - muitas igrejas católicas e ruas estreitas que são a cara de Paraty.

Macau tornou-se uma concessão portuguesa em 1557 (um presentão chinês para os portugueses que expulsaram os piratas que dominavam a região), e somente foi devolvida à China em 1999.

Uma observação: Macau foi "colonizada" por portugueses, tornou-se uma cidade subdesenvolvida; ao seu lado, mesma posição geográfica, mesmo clima, mesmo povo, mesmo solo, mesmo tudo, Hong Kong foi colonizada pelos ingleses, tornou-se uma potência econômica.

Ruínas da Igreja de São Paulo. Símbolo de Macau.



"Largo do Senado". Toda sinalização da cidade em Português.

Hong Kong. Setembro/2007.

Antiga colônia inglesa, Hong Kong é provavelmente a cidade mais organizada, limpa e desenvolvida da China (e beeeeeeem mais cara também). Tomada pelos ingleses em 1841 (após o final da primeira Guerra do Ópio), e devolvida à China em 1997, HK é riquíssima, com um dos maiores portos do mundo e um sistema financeiro fortíssimo. O trânsito (mão inglesa) e o transporte público (metrôs e ônibus) são a cara de Londres, mas é impressionante a semelhança com o Rio de Janeiro, pelo clima de praia e pelas montanhas que rodeiam a cidade (a diferença é que no lugar das favelas dos morros cariocas, os morros de HK são tomados pelos arranha-céus e prédios residenciais).

Ilha de Hong Kong.

Aprendizados de nossa aula de mandarim: em chinês, Hong Kong se diz XiangGang (Xiang=fragrância, Gang=porto). Apesar de duvidar que um porto possa ser cheiroso, a história é que as especiarias do sudeste asiático eram trazidas para a China e outros países do norte através de Hong Kong... o cheiro deu o nome ao porto, que deu o nome à cidade.

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Apesar de Macau e HK terem sido integrados novamente à China, o tratamento ainda é muito especial e o controle rigoroso. Na entrada à China há 3 filas no aeroporto: "CHINESES", "ESTRANGEIROS", e "MACAU/ HONG KONG/ TAIWAN"(???). Para os chineses irem a qualquer destas cidades, é necessário visto especial. Os vôos são considerados internacionais. A moeda é outra: em Macau a Pataca, em HK o Dólar HK, em Taiwan o Novo Dólar de Taiwan.

Consideradas "Regiões Administrativas Especiais" (RAEs), com sistema político e legal separado da China e uma economia capitalista, a definição dada para Macau e HK é "um país, dois sistemas". Uma diferença básica que logo se nota em relação ao restante da China é a liberdade de expressão, com imprensa e internet livre (até mesmo os livros proibidos na China, dos considerados "inimigos do partido", nós encontramos por lá). Este regime especial foi adotado por 50 anos, quando serão realizadas eleições para que seja escolhido se estas cidades serão totalmente integradas à China. Democracia Chinesa? HA-HA-HA, duvido.

Taiwan é ainda mais especial: tem presidente próprio, eleições, moeda própria, políticas próprias, bandeira própria... mas qual a diferença disso para um país??? Bem, na prática Taiwan "é um país"... huumm, tenta falar isso pra um chinês! Dá uma briga... mas esse "barril de pólvora" é uma outra longa história.

Sejam bem-vindos!

Ahhhhh, amigos! Quem diria que alguém iria se aventurar aqui deste lado do mundo!!!


Cá e Cris: Jade Buda Temple. Maio/ 2007.

Mu e Julien no Zapatas. "Regresa Pronto" mi amigo. Agosto/ 2007.

Saudades Carlão!!! Agosto/ 2007.

Coroado: maior barangueiro de Shanghai! Agosto/ 2007.


Bund & Lujiazui.



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Voltem sempre!!!!



E quem será o próximo???



Aguardamos de portas abertas!!!!!!!

Tirando o atraso

Depois de muitas tentativas de acesso ao blog, a censura matou o “tesão” de escrever. O blog ficou adormecido desde Maio, e só agora, que a saudades já está enorme, resolvemos tentar mais uma vez. Milagre, pois agora até o youtube anda censurado por aqui!!!

Resolvemos tirar o atraso e colocar algumas fotos destes meses que se passaram sem notícias...

Com o tempo a vida foi ficando cada vez mais “abrasileirada”... a comunidade brasileira em Shanghai é enorme. Segundo o consulado, são por volta de 1000 brasileiros + 800 “brasileirinhos” (filhos de imigrantes chineses, nascidos no Brasil, mas logo enviados de volta à China para serem criados por seus avós). É fácil ficar amigo de brasileiro, ainda mais quando tem uma churrasqueira por perto. O primeiro em casa fizemos com a churrasqueira de um amigo (gaúúúcho... diz ele que é de uma cidade longe de Pelotas, a gente finge que acredita). Gostamos tanto que precisamos comprar uma. Foi o melhor investimento desde que chegamos por aqui! Por incrível que pareça é churrasco com tudo o que se tem direito. Picanha, maionese, vinagrete, farofa, e até caipirinha!

Montando a churrasqueira do Gustavo.

Luiz e eu ("churrasqueira própria", rs).

Um dos muitos churras em casa. Viciamos.


Dream Team.


Montamos até um time brasileiro. Nunca a "amarelinha" foi tão judiada, coitada! Uma vergonha ao futebol brasileiro, mas pelo menos é o único time que tem um enorme isopor de cerveja pro intervalo!


BRASA FUTEBOL CLUBE

Pra comemorar depois do jogo, já temos nossa mesa reservada no Latina. Churrascão brasileiro e guaraná (guaraná FRUKI, delícia!). E graças ao Ney, simpatissísimo baiano chefe de cozinha do Latina, temos até pão de queijo e pastelzinho de carne!!! Tratamento VIP.

Rodízio Brasileiro.

Com o verão (queeente...), deixamos a preguiça de lado e encaramos até algumas baladas em Shanghai. E são AS baladas. No Bund, onde estão várias construções estilo inglês e francês (resquícios dos tempos de domínio Europeu sobre a China), as baladas estão no topo dos prédios, ao ar livre e com vista para o rio Huangpu e para Pudong (o lado onde moramos). Show.

Ática!!!

Zapatas!!!


Cá e seu chop! Ou é o chop que está segurando ela???

A Copa do Mundo de Futebol Feminino 2007 foi realizada na China. Fui assistir Inglaterra x Alemanha. Um horroroso 0 x 0, mas bonito pelas torcidas (as comunidades inglesa e alemã são enormes em Shanghai), e também pelo maravilhoso estádio (Hongkou Stadium). Nas Olimpíadas de 2008, além dos jogos em Bejing, Shanghai sediará o futebol e Qingdao os jogos de vela e regatas. Na final da Copa não estávamos em Shanghai e fomos poupados de presenciar o vexame Brasil 0 x 2 Alemanha.



E de vez em quando até arranjamos um tempinho pra falar de coisa séria também:

Cá estudando - Marketing & Fashion Design



Eu trabalhando - Pasir Gudang (Malásia)


Cerimônia de inauguração escritório VCP Shanghai.

Recepcionistas na cerimônia. XXXXis.

Saturday, May 5, 2007

Exílio

A alegria da liberdade de expressão durou pouquíssimo. Logo após publicarmos o último post, o meio de burlar o sistema também foi censurado... o implacável Partido Vermelho. Com isto estamos temporariamente calados novamente, condenados a escrever somente durante os períodos de exílio. Neste momento estamos em Cingapura, depois de passar quase uma semana em Bali, na Indonésia. Como temos pouco tempo para a internet, tento descrever com poucas palavras estes dias fantásticos, e o próximo post será dedicado somente à viagem (porém deverá ser publicado somente no final de Junho, para quando é previsto o próximo período de liberdade).

Bali
Praias paradisíacas, com fundo de coral e água transparente
Pôr do sol – indescritível
Pessoas muito amigáveis e simpáticas
Baratíssimo – comida maravilhosa, artesanato, carro com motorista (por 8 horas e gasolina inclusa, 30 dólares)
Lugar onde quero morar pelo resto da vida depois de aposentado: GEGER BEACH

Sarongue em Bali - respeito aos deuses hindús


Sinalização nos templos: "MULHERES MENSTRUADAS, MANTENHAM DISTÂNCIA"



Geger Beach

Cingapura
Extremamente organizada, limpíssima, bem planejada e moderna - chega a ser irritantemente perfeita
SENTOSA: em uma ilha aparentemente sem maiores pretensões foram criadas praias artificiais e um resort maravilhoso, mistura de Disney com Ibiza
Aeroporto mais moderno e eficiente do mundo, maior porto de movimentação de containers do mundo
Caldeirão racial: chineses, malaios e indianos

Sentosa Island

HANYU


Há praticamente três meses começamos nossas aulas de Chinês: o Mandarim (HANYU). Mas que língua insana. Nos submetemos à tortura 3 vezes por semana e ainda estudamos bastante em casa, mas somente agora começamos a montar algumas pequenas frases. A pimeira vez que disse zaijian (tchau) para nossa ayi (empregada), a tia quase sentou no chão pra dar risada (a língua é tão difícil que os chineses nunca esperam que os ocidentais falem algo em chinês). O problema é que a situação ficou mais ridícula, pois sabemos fazer perguntas básicas como “Quanto custa?”, mas não entendemos absolutamente nada da resposta!!

Aprender mandarim parece ser diferente de qualquer outro idioma do mundo. Nas primeiras aulas não se aprende uma palavra sequer, mas somente tons. Ahhh, os tons, que dureza. O idioma possui 4 tons, o que pode diferenciar completamente o sentido de uma palavra. Na primeira página do nosso livro já vem estampado:
- ma (tom 1) = mãe
- ma (tom 2) = maconha
- ma (tom 3) = cavalo
- ma (tom 4) = xingar

Se escorregar no tom, a “minha mãe” pode virar “minha maconha”!!! Mesmo falando devagar, muitas vezes a diferença dos tons é imperceptível. Com eles falando rápido, parece impossível.

E a dificuldade parece ter explicação científica. O “modelo mental” é diferente. Em línguas ocidentais, quando uma pessoa ouve palavras em sua língua nativa, somente o lado esquerdo do cérebro é ativado. Quando os chineses escutam o mandarim, os dois lados do cérebro funcionam, pois na parte direita está localizado o centro de processamento da música - e dos tons. Devia ter aprendido a tocar piano antes de vir morar aqui...

Não bastasse a dificuldade do mandarim, ainda existem outros 53 idiomas nacionais e mais de 100 dialetos (oficialmente). Os pais de nossa professora de mandarim, moradores do norte da China, estão estudando mandarim para conseguirem se comunicar quando vêm para Xangai visitá-la. Detalhe: a população de Xangai fala o Xangainês entre si, e não o Mandarim. Pesquisas apontam que apenas 53% dos chineses podem se comunicar através do mandarim - os demais falam apenas seus dialetos locais.

Existe ainda a barbaridade do sistema de escrita chinês - mais de 40 mil caracteres. Sim, são 40.000 “desenhos” diferentes! É preciso conhecer um mínimo de 3.000 caracteres para entender um jornal “simples” (o “Diário Popular” chinês). Para assuntos mais aprimorados, seria preciso aprender mais outros tantos milhares. Quando tive algumas aulas no Brasil, o próprio professor recomendou: “Escrever? Nem perca seu tempo - impossível”. Impossível não é, mas precisaríamos de um esforço violentíssimo, e logo iríamos esquecer tudo pela falta de prática. E por isso a intenção é aprender a nos comunicar somente verbalmente.

Para ajudar um pouco (pouquíssimo, diga-se de passagem), a China organizou em 1958 um sistema de romanização da escrita, conhecido como pinyin (escrita ortográfica). Com isso, os caracteres chineses são representados pelos símbolos romanos. Parece simples, mas o G tem som de C, o J de T, o T de TS, o Ü deve ser falado com “biquinho”, etc, etc, etc, e tons, e tons, e tons, blábláblá... se mudar um pouquinho o som, ou o tom, ou se sorrir um pouco diferente, já muda o sentido da palavra. É fácil assim!!! Vale o lembrete: caso alguém venha para a China, traga o endereço de onde quer ir em CARACTERES CHINESES (para mostrar ao taxista), pois pouquíssimos chineses conhecem o sistema pinyin.


Coca-Cola = CARACTERES CHINESES

O bom senso levava a acreditar que com o domínio de uma boa quantidade de palavras, passaríamos a entender algo. Mas agora começamos a nos deparar com palavras que já tínhamos aprendido, mas com significado completamente diferente... ??? É o mesmo pinyin, o mesmo tom... mas é outro caracter chinês! Dá vontade de desistir...

Mas somos persistentes.

Saturday, April 7, 2007

Censurados

Somos os mais novos perseguidos políticos da China. A escassez de posts por aqui não foi devida à preguiça, mas à censura: O CACHORRONACHAPA FOI BLOQUEADO NA CHINA!

Sem prévio aviso, simplesmente tiraram nosso blog do ar na China (vide post “Censura” - Fevereiro). Nos primeiros dias achamos que o blogspot estivesse com problemas, mas logo passamos a desconfiar e confirmamos que amigos de outros países o estavam acessando normalmente! Blogs sobre a China que costumávamos acessar também foram bloqueados aqui, enquanto blogs a respeito de outros países ou que têm somente fotos continuam no ar, normalmente. Pensamos em criar um novo, mas caso voltássemos a escrever qualquer assunto polêmico sobre o país, novamente seríamos barrados. E aí acaba o tesão de escrever!

Como temos planos de viajar para fora da China em Maio, a idéia era continuar escrevendo, mas arquivar tudo para publicar futuramente durante o “período no exílio”. Finalmente, encontramos por acaso no orkut uma dica de um site que burla o sistema de firewall chinês... e aqui estamos nós de novo, escrevendo na ilegalidade!!! Nossos agradecimentos ao mundo hacker!

Nosso endereço em Xangai que estava estampado em letras garrafais aqui do ladinho foi devidamente removido (just in case). Não fomos torturados nem nada (ainda), mas podemos dizer que provamos o sabor da censura!

Um prazer dizer que, aparentemente, estamos de volta.

Tuesday, March 6, 2007

TRASH!

A Carla está falando aqui que o blog está virando baixaria, mas eu não resisto. Muita aventura num dia só!!! Difícil explicar, e mais difícil ainda acreditar...

Há alguns dias o ralo do nosso chuveiro começou a acumular água... hoje a Carla teve a feliz idéia de chamar um tiozinho do prédio pra tentar arrumar. huuuummmm. Pois veio o distinto senhor com seu maquinário, e enquanto a Carla assistia o trabalho... "vlapt". UM CATARRÃO!!! No nosso box!!! Haja água sanitária agora. Vamos tomar banho no banheiro de visitas por uma semana até desinfetar tudo! Deveríamos sinalizar nosso banheiro também???



No almoço hoje, eu e o Chen (que trabalha comigo) comendo, começa uma gritaria!!! E logo passa o rato, seguido por uns 5 garçons munidos com suas vassouras!!!

Para aqueles que não acreditaram no blog anterior, segue abaixo uma imagem um tanto quanto curiosa - tirada por uma amiga do Chen. Se alguém estava comendo, desculpe...

Wednesday, February 28, 2007

Fralda pra quê?

Quando vi o modelito a primeira vez estranhei... "será que serve pra isso mesmo que estou pensando"?


Acho que agora já não restam mais dúvidas... só pra ventilar é que não vai ser!


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Volto a editar o post, após receber um e-mail provando que a idéia original foi brasileira, sendo somente aprimorada pelos chineses:

* caso alguém reconheça o autor da façanha, favor comunicar

Tuesday, February 27, 2007

Xi'an


Já no avião podia-se notar que estávamos entrando em uma outra China. Quem reclama da barrinha de cereal da GOL, vem pra cá e tenta pelo menos descobrir que raios é aquilo que supostamante deveríamos comer durante o vôo. Eu não descobri. Nem comi. Só não foi mais bizarro do que uma tiazinha na nossa frente, que de dentro de sua sacolinha sacou um suculento carangueijo todo amarradinho, e devorou o bichão!!! Não sabíamos se prestávamos mais atenção na tia lambendo os dedos ou em uma outra estrangeira incrédula ao lado, indignada.

Xi’an tem uma história de mais de 3.100 anos. No lugar de Pequim, é Xi’an a cidade que possui a mais antiga história como capital do Império Chinês, desde 221 antes de Cristo. Pequim tornou-se capital somente em 1421. No avião líamos nosso Lonely Planet, hipnotizados: “2 séculos antes de Roma ser fundada, 5 séculos antes de Buda ser iluminado, Xi’an já era a capital chinesa”. No museu Shaanxi há crânios de míseros 1,15 milhões de anos! O Homem de Lantian foi descoberto nas redondezas da cidade, o que confere à região a honra de ser considerada um dos berços da humanidade. Hoje, Xi’an é um vilarejo de 7,2 milhões de habitantes. Embora já enorme, ali realmente se respira China. E história.


Bell Tower e Drum Tower, no centro de Xi'an.

Na época antiga, quando todas as importantes cidades possuíam muralhas para protegê-las, a capital Xi’an obviamente possuía uma das maiores e mais sólidas. O tempo passou, passou, e continua ela ali, desde o século VI. Linda, imponente. Pois subimos lá, alugamos 2 bikes, e pedalamos por todos os seus longos 14 km (Carla superando todas as expectativas!). Por tanto tempo preservada, ainda sofreu com mais uma amostra da barbaridade humana no final dos anos 30 (do século XX mesmo!), quando uma bomba japonesa destruiu 200m da muralha. O governo chinês concluiu a restauração recentemente.


Ao final da tarde fomos parar no Bairro Muçulmano. Em poucas palavras, uma experiência antropológica. Barraquinhas espalhadas pelas calçadas, cobertas por gaiolas de passarinhos (alimentados em potinhos de porcelana, luxo chinês), e “restaurantes” ao ar livre, muitos de espetinhos de carne, e outros muitos de indecifráveis pratos. O toque especial do churrasquinho é que ali os espetinhos não são de madeira, mas sim de metal. E enferrujados!!!!!!!!!!!!!! E a galera na fila, jantando! Um lugar único no mundo, definitivamente.


O ápice da viagem: Guerreiros de Terracota. Enquanto seguíamos ao seu encontro dentro de uma vanzinha vagabunda, por uma estrada não menos vagabunda, a expectativa era enorme. Pasmo com as histórias da guia, tive uma verdadeira crise existencial. “Como posso ser tão ignorante, não saber absolutamente nada disso?” Durante todos os anos de escola, não me lembro de ter tido uma aulinha sequer sobre história asiática ou do oriente... e por quê, se aqui talvez haja mais história do que qualquer outro lugar no mundo? Peguei um papelzinho e comecei a anotar.

A maior rota comercial da antiguidade entre ocidente e oriente, conhecida como a Rota da Seda, começava em Xi’an. O imperador, pobre coitado, cansado de perder algumas batalhas porque na China existiam somente cavalos muito baixos, enquanto os cavalos mongóis eram enormes, mandou buscar cavalos no ocidente. Em troca, seda e porcelana chinesas (se estes produtos ainda hoje encantam o ocidente, imaginem na época!). Comentário muito pertinente na van: “Toda a rota da seda começou porque o cara só tinha pônei e queria um cavalo”. Bom, com tanto fluxo econômico e cultural com o ocidente, é de se imaginar que o pobre imperador tivesse um ego um tanto quanto gigantesco. E nada melhor do que mandar construir, para guardar seu túmulo e alma para todo o sempre, seu próprio exército. Tudo isso a mais de 200 anos antes de Cristo!


Descobertos acidentalmente por camponeses em 1974, os Guerreiros de Terracota eram nada mais nada menos do que 6000 guerreiros e cavalos em tamanho natural, arrumados em posição de batalha. Cada uma das peças com um rosto diferente, o que leva a supor que são representações do verdadeiro exército da época. A imensa maioria deles, completamente destruída. Efeito do tempo? Não, do homem mesmo (ou seria melhor dizer um animal?). Um general que tomou o poder após a morte do imperador mandou destruir e atear fogo em tudo.

Logo foram fazendo mais buracos (salvem os arqueólogos) e descobrindo mais coisas, inclusive o túmulo do dito imperador Qin, a 1,5 km dos Guerreiros. Ao longo dos 1,5 km, surgiram mais 2000 guerreiros, estes todos coloridos!! Após ficarem debaixo da terra por mais de 2000 anos, as primeiras peças desenterradas perderam a cor ao entrar em contato com o ar. Por isso, a quase totalidade destas 2000 peças aguardam enterradas uma tecnologia que permita preservá-las do contato com o ar. Também foram encontradas peças de figuras “acrobáticas” mais perto do túmulo, que serviriam para entreter o imperador. Já o Túmulo do Primeiro Imperador continua um mistério, inacessível. Ali, espera-se que seja desenterrada em breve uma das maiores descobertas arqueológicas dos últimos séculos.

Quando já não esperávamos mais novidades, eis que um casalzinho começa a nos olhar de longe... risadinhas... e não param de olhar. Pra provocar, bati uma foto dos dois (abaixo, parecem estar olhando para um casal de animais raros). Foi a deixa para o cara chegar mais perto e, num inglês macarrônico: “Can I take a picture with this be-au-ti-ful girl?”. E aponta a Cá. Eu mereço. Pois é, o quanto somos encarados o tempo inteiro, o quanto nos olham com tanta curiosidade, é uma outra longa história. Não faz muito tempo que a China abriu suas portas para o Ocidente. Nós, dos olhinhos não-puxados, ainda somos novidade por aqui!


Deixamos algumas dicas:

Imperdível: Muslim Quarter (prepare seu estômago) e Ópera Shaanxi (ballet Chinês)
Onde ficar: Mercure (ótima localização, barato)
Onde comer: Azur (cozinha internacional, em Renmin Square) ou Defachang (cozinha chinesa, entre Bell e Drum Tower)

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. (...) Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver." Amir Klink